Custos de defesa criminal: o que afeta os honorários?

Por Amigo Rico

10 de junho de 2025

Quando alguém se vê diante de um processo criminal, uma das primeiras dúvidas que surgem é: quanto custa contratar um advogado? E essa pergunta, embora pareça simples, envolve uma série de variáveis que podem alterar (e muito) os honorários. Não existe uma tabela fixa que cubra todas as situações, porque cada caso é único — e o trabalho envolvido também.

A ideia de que o valor cobrado é “só para ir no fórum” não poderia estar mais distante da realidade. Uma defesa criminal exige estudo, estratégia, reuniões, redação de peças, análise de provas, presença em audiências e, muitas vezes, urgência. Isso sem contar a tensão constante — e o risco que se corre ao assumir determinadas causas.

Além disso, o tipo de crime, a fase do processo, a quantidade de réus envolvidos e até o local onde o caso será julgado interferem diretamente no valor. A complexidade técnica e o tempo estimado de duração do processo também pesam na balança. Em resumo: cada elemento novo é um fator que pode elevar (ou reduzir) o custo da atuação.

Vamos analisar, ponto a ponto, os principais fatores que influenciam nos honorários cobrados por advogados criminalistas. A ideia não é apenas entender o “quanto”, mas o “porquê” por trás dos valores — e como a estrutura da defesa se molda a partir dessas nuances.

 

O tipo de crime e sua complexidade

O primeiro fator que pesa bastante nos custos de defesa é, claro, o tipo de crime em questão. Crimes simples, como desacato ou posse de entorpecentes para uso pessoal, tendem a demandar menos tempo e estratégia. Já acusações de homicídio, estupro, organização criminosa ou lavagem de dinheiro, por exemplo, exigem uma atuação muito mais intensa — e, portanto, mais cara para o cliente.

Um advogado criminalista precisa avaliar logo de início o grau de complexidade do caso: há perícias envolvidas? há mais de um réu? existe risco de prisão preventiva? Cada uma dessas questões interfere na quantidade de horas que o profissional vai precisar dedicar — e tempo, nesse contexto, significa valor.

Além disso, certos crimes requerem domínio técnico específico. Crimes ambientais, financeiros ou digitais, por exemplo, não podem ser tratados com as mesmas ferramentas jurídicas de um caso comum. Quando o advogado precisa estudar profundamente um tema fora do seu núcleo habitual, isso também se reflete nos honorários.

E tem outro ponto que muitos esquecem: a exposição do caso. Se o crime envolve figuras públicas ou pode ganhar destaque na mídia, o nível de responsabilidade e cautela cresce. Aí o valor sobe não só pelo trabalho técnico, mas pela exigência de gestão de imagem e reputação — tanto do cliente quanto do próprio advogado.

 

Casos financeiros e tributários exigem mais preparo técnico

Quando o assunto envolve crimes fiscais ou lavagem de dinheiro, os custos naturalmente se elevam. Isso acontece porque a defesa em crimes tributários exige mais do que domínio da legislação penal — ela envolve análise de documentos contábeis, cruzamento de dados bancários, conhecimento de regras fiscais e até consulta a especialistas em outras áreas.

Esse tipo de processo costuma ser mais demorado, técnico e, na maioria das vezes, envolver valores altos — o que aumenta também o risco para todas as partes envolvidas. Não é raro o advogado trabalhar em conjunto com contadores, economistas e peritos para montar uma linha de defesa sólida, e tudo isso tem custo agregado.

Outro fator que pesa é a quantidade de documentos. Um processo por sonegação fiscal, por exemplo, pode conter milhares de páginas, entre notas fiscais, planilhas, e-mails e laudos. Só para ler, organizar e entender essa papelada, o advogado já investe um tempo enorme — e, novamente, tempo é parte essencial da precificação dos honorários.

E ainda tem o aspecto estratégico: muitos desses casos não se resolvem apenas no tribunal. Exigem atuação preventiva, negociação com o Ministério Público, acordos de colaboração, análise de riscos corporativos. Tudo isso precisa estar contemplado no planejamento financeiro da defesa, sob pena de se entrar em uma causa complexa sem os recursos necessários para uma atuação eficaz.

 

Crimes digitais e os desafios técnicos da atuação

Outro tipo de caso que costuma impactar diretamente nos honorários envolve crimes virtuais. Um defensor especializado crimes cibernéticos não atua apenas com as leis — ele também precisa entender de tecnologia, bancos de dados, análise de IPs, redes criptografadas, entre outros pontos que fogem do repertório tradicional do Direito Penal.

Esse tipo de atuação exige constante atualização técnica, parcerias com peritos forenses, além de ferramentas específicas para ler e interpretar provas digitais. Tudo isso se reflete no valor final cobrado. Não é uma escolha estética, é uma necessidade prática: o advogado precisa de recursos — humanos e tecnológicos — para conduzir bem o caso.

Além disso, crimes cibernéticos têm uma peculiaridade: muitas vezes o cliente nem sabe exatamente o que está sendo acusado. Ele é surpreendido com uma intimação por invasão, fraude ou divulgação de conteúdo indevido e sequer compreende como a investigação foi conduzida. O advogado, então, assume também o papel de tradutor técnico da acusação.

Por conta disso, a fase inicial do processo costuma ser mais trabalhosa. Identificar a fonte da prova, validar os métodos de obtenção, pedir perícias complementares… tudo isso consome tempo e energia logo nos primeiros dias. É por isso que os honorários iniciais, mesmo antes do processo avançar, já são mais altos nesse tipo de demanda.

 

A experiência e especialização do profissional

Não dá pra ignorar: a reputação e o tempo de atuação do advogado também influenciam diretamente no valor cobrado. Um profissional que é referência como Direito Penal especialista São Paulo, por exemplo, naturalmente possui honorários mais altos do que alguém que está iniciando na carreira.

Mas isso não é apenas uma questão de prestígio — tem relação com a segurança jurídica que o advogado oferece. A experiência permite antecipar problemas, evitar erros estratégicos, acelerar etapas e, em muitos casos, alcançar resultados melhores. E, convenhamos, essa confiança tem um preço.

Outro ponto importante é a atuação em tribunais superiores. Advogados que lidam com recursos no STJ ou STF, por exemplo, trabalham com um nível de complexidade jurídica maior — e isso também impacta nos valores. É um tipo de conhecimento muito específico, que demanda tempo e dedicação para ser mantido atualizado.

Além disso, há advogados que limitam o número de causas que aceitam simultaneamente, exatamente para garantir uma atuação mais dedicada a cada cliente. Isso também encarece o serviço, mas garante maior atenção e disponibilidade. Ou seja: quanto mais exclusivo e técnico o atendimento, maior tende a ser o investimento necessário.

 

Demandas corporativas e crimes ambientais

Casos que envolvem empresas ou figuras públicas, como nos processos de advocacia em crimes ambientais, também apresentam características específicas que afetam os honorários. Isso porque a atuação do advogado vai muito além da esfera penal — ele precisa considerar riscos reputacionais, impactos regulatórios, responsabilidades de diretores e até possíveis reflexos em ações civis ou administrativas.

Esse tipo de processo costuma exigir uma equipe multidisciplinar. É comum que o advogado atue ao lado de engenheiros ambientais, consultores de compliance e especialistas em governança corporativa. E tudo isso precisa ser orquestrado com cuidado — e financiado pelo cliente, claro.

Além disso, muitos casos ambientais envolvem perícias técnicas extensas, análise de laudos de impacto, vistorias em campo, e até interação com órgãos ambientais e reguladores. É uma atuação complexa, que consome tempo e estrutura. Por isso, os honorários são calculados com base nesse volume de trabalho e na complexidade envolvida.

Outro fator é o potencial midiático do caso. Crimes ambientais, quando repercutem, geram forte comoção pública. O advogado precisa ser cauteloso em suas manifestações, ter estratégias de comunicação e, às vezes, até lidar com assessorias de imprensa. Tudo isso faz parte do serviço — e está embutido no preço.

 

Urgência, deslocamento e riscos adicionais

Por fim, há elementos práticos que também influenciam o valor dos honorários. A urgência é um deles. Atendimentos em plantão, audiências noturnas, deslocamentos imediatos para delegacias ou fóruns distantes — tudo isso gera custos adicionais. Quando o advogado é chamado às pressas para evitar uma prisão ou acompanhar uma audiência de custódia, é natural que cobre mais por isso.

O mesmo vale para deslocamentos. Atuar fora da cidade ou do estado implica em custos com transporte, hospedagem, alimentação — além do tempo afastado de outros processos. Esses fatores são considerados no orçamento e discutidos com o cliente já no início do contrato.

Também entram aqui os riscos específicos do caso. Há situações em que o advogado precisa lidar com ameaças, exposição indevida, ou mesmo ser alvo de retaliações por parte de terceiros envolvidos. Esses elementos, ainda que não frequentes, existem — e exigem uma análise criteriosa antes de aceitar a causa.

No fim das contas, cada caso é um mundo. E cada mundo tem seu próprio custo de navegação. Cabe ao advogado explicar com transparência os critérios adotados e ao cliente compreender que, na maioria das vezes, pagar bem pela defesa é um investimento — não uma despesa.

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