Foto: Raul Baretta / Santos FC
O rebaixamento para a Série B traz consigo um impacto financeiro devastador para qualquer clube de futebol, e o Santos, com sua história e tradição, não está imune a isso. A queda para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro em 2024 representa um momento crítico na gestão financeira do clube, que precisará encontrar formas de minimizar as perdas e evitar erros que podem comprometer ainda mais sua saúde financeira.
As consequências econômicas de um rebaixamento vão muito além da perda de receita com transmissões e patrocínios. Há efeitos profundos sobre a valorização dos jogadores, a receita com bilheteria e até mesmo a adesão de torcedores ao programa de sócios. Mas, apesar das dificuldades, há medidas que o Santos pode adotar para evitar uma crise maior e garantir uma recuperação estruturada, tanto dentro quanto fora de campo.
Neste artigo, exploraremos os principais pontos que o Santos precisa evitar para não agravar o impacto financeiro do rebaixamento. A situação é delicada, mas com uma gestão estratégica e foco em decisões responsáveis, o clube pode contornar os desafios que surgem com a Série B.
Dependência excessiva de receitas de TV
Um dos maiores impactos do rebaixamento está na drástica redução das receitas provenientes dos direitos de transmissão. Na Série A, as cotas de TV representam uma fatia significativa do orçamento de clubes como o Santos, mas na Série B, esses valores caem de forma acentuada. Isso significa que o Santos não pode mais depender exclusivamente dessa fonte de renda para sustentar suas operações.
Para evitar o colapso financeiro, o clube precisará diversificar suas fontes de receita. Isso inclui intensificar a busca por patrocinadores, aumentar o engajamento do programa de sócio-torcedor e explorar novos modelos de monetização, como parcerias comerciais e licenciamento de produtos. Apostar apenas na receita de TV seria um erro que pode custar caro, pois não há garantias de que o clube conseguirá retornar rapidamente à Série A.
Além disso, é essencial que o Santos renegocie contratos e ajuste seu orçamento para essa nova realidade. A responsabilidade fiscal será um pilar para evitar maiores complicações financeiras e garantir que o clube se mantenha competitivo na Série B, sem correr o risco de um endividamento ainda mais profundo.
Contratações sem planejamento financeiro
Outro erro comum que clubes rebaixados cometem é investir de forma descontrolada em contratações para tentar um retorno imediato à elite. Sem um planejamento financeiro claro, esse tipo de abordagem pode levar a gastos excessivos, salários inflacionados e, em muitos casos, a um desempenho aquém das expectativas. O Santos, diante de sua atual crise financeira, precisa evitar esse tipo de armadilha.
O clube deve adotar uma política de contratações cautelosa, focada em jogadores com bom custo-benefício e que possam se adaptar às exigências da Série B. Priorizar atletas que já tenham experiência na competição ou que estejam em ascensão pode ser mais seguro do que apostar em grandes nomes com altos salários. A contratação de jovens promissores, combinada com a utilização da base, também pode ajudar a equilibrar o elenco sem comprometer as finanças.
Além disso, é fundamental que o Santos evite contratos longos e caros que possam se tornar um fardo em caso de dificuldades financeiras futuras. O foco deve ser em contratos curtos e com cláusulas de desempenho, que minimizem os riscos de comprometimento de orçamento caso os resultados em campo não sejam alcançados.
Aumento da folha salarial sem controle
Manter uma folha salarial inflada é um dos maiores riscos financeiros após o rebaixamento. Com receitas significativamente menores, o Santos precisará ajustar sua folha de pagamentos à nova realidade. No entanto, aumentar ou mesmo manter os altos salários praticados na Série A seria um erro que poderia agravar a crise financeira do clube.
O ideal é que o Santos adote uma política de redução salarial proporcional às suas receitas da Série B. Isso pode incluir renegociações com jogadores do atual elenco ou a utilização de jovens promessas da base, que naturalmente possuem salários mais baixos. Além disso, é preciso estabelecer um teto salarial compatível com as receitas, evitando que o clube gaste mais do que pode arrecadar.
Clubes que negligenciam o controle da folha salarial muitas vezes se veem forçados a vender seus principais ativos – jogadores – a preços subvalorizados para cobrir despesas correntes. O Santos, para evitar essa situação, precisa ser rigoroso no controle de seus gastos com salários, garantindo que a sustentabilidade financeira seja mantida, mesmo em um cenário de menor arrecadação.
Negligenciar a categoria de base
O Santos sempre foi conhecido por revelar grandes jogadores, e a sua categoria de base é um dos ativos mais valiosos do clube. Em tempos de crise financeira, apostar nos “Meninos da Vila” pode ser uma das melhores soluções para reduzir gastos com contratações e, ao mesmo tempo, montar um elenco competitivo para a Série B. Negligenciar essa fonte de talentos seria um grande erro.
Ao invés de investir em jogadores caros, o Santos deve intensificar o uso de sua base, proporcionando espaço para que os jovens tenham a oportunidade de se destacar no time principal. Além de ajudar financeiramente, isso também pode gerar retorno futuro, com vendas de jogadores para o mercado europeu ou asiático. Valorizar a base é uma estratégia de longo prazo, mas que pode oferecer resultados consistentes e sustentáveis.
Entretanto, é fundamental que esses jovens talentos sejam bem preparados para as exigências da Série B, uma competição mais física e menos técnica do que a Série A. A transição para o profissional deve ser feita de maneira responsável, evitando a “queima” precoce de jogadores por conta da pressão. Com um trabalho bem estruturado, a base pode se transformar em um dos pilares da recuperação do Santos.
Desconectar-se da torcida
O rebaixamento traz consigo um sentimento de frustração entre os torcedores, e o Santos precisa tomar cuidado para não perder o apoio de sua apaixonada torcida durante essa fase difícil. Manter uma relação próxima e transparente com os torcedores é essencial para garantir a sustentabilidade financeira e emocional do clube. Ignorar ou minimizar a importância desse vínculo pode resultar em perda de receitas e, pior ainda, no distanciamento dos fãs.
A torcida é uma fonte vital de receitas, seja por meio de ingressos, programas de sócio-torcedor, compra de produtos licenciados ou mesmo presença nas redes sociais. O Santos precisa, portanto, investir em ações de marketing e engajamento que mantenham a torcida conectada e confiante no futuro do clube. Oferecer benefícios exclusivos para sócios, criar campanhas emocionantes e manter um diálogo aberto sobre a situação do clube são formas eficazes de preservar essa conexão.
A Vila Belmiro, tradicionalmente um caldeirão de apoio, pode continuar sendo uma vantagem competitiva na Série B, mas isso depende de como o clube vai interagir com seus torcedores. Manter a confiança e o engajamento da torcida será fundamental para atravessar esse momento turbulento e traçar o caminho de volta à elite.
Considerações finais
O impacto financeiro do rebaixamento para a Série B é inegável e coloca o Santos diante de grandes desafios. No entanto, ao evitar erros comuns, como a dependência excessiva de receitas de TV, contratações descontroladas e uma folha salarial inchada, o clube pode minimizar os danos e preparar o terreno para uma recuperação sólida.
Além disso, valorizar a categoria de base e manter uma relação próxima com a torcida são estratégias essenciais para garantir tanto a sustentabilidade financeira quanto o apoio necessário durante esse período de adversidade. O Santos precisará de planejamento estratégico e decisões responsáveis para superar essa fase complicada.
Embora o cenário seja desafiador, o clube tem todas as ferramentas para se reerguer. Com a adoção de uma gestão financeira rigorosa e um foco no uso inteligente de seus recursos, o Santos pode transformar esse momento difícil em uma oportunidade de renovação e volta por cima.