Planejamento financeiro para escritórios de advocacia criminal

Por Amigo Rico

14 de julho de 2025

Organizar as finanças pessoais já é um desafio para muita gente com renda fixa… agora imagina quando a renda varia de mês pra mês, como costuma acontecer na advocacia criminal. Tem mês em que entra tudo de uma vez — honorários, consultas, parcelamentos quitados — e tem mês em que o escritório mal cobre as despesas básicas. A montanha-russa financeira é real e, se não for bem gerida, pode comprometer o bem-estar e até a carreira do profissional.

Essa variação nas receitas exige um olhar diferente. A organização financeira de um advogado criminalista não pode seguir a mesma lógica de quem recebe salário fixo no fim do mês. Aqui, a regra é outra: prever o imprevisível, planejar em cima de estimativas e manter uma reserva com disciplina quase militar. Só que isso nem sempre é ensinado na faculdade. E o resultado? Gente altamente qualificada que vive no vermelho.

Outro problema comum é misturar finanças pessoais com as do escritório. Parece inofensivo no começo (“só vou pagar essa conta aqui com o cartão do escritório”), mas vira um padrão perigoso. Em pouco tempo, não dá mais pra saber se o dinheiro que entrou é do cliente, do aluguel, do supermercado ou da parcela do carro. Quando se lida com causas delicadas — tipo um cliente acusado de estelionato que precisa de urgência — essa falta de clareza pode até gerar conflitos éticos.

Por isso, entender a dinâmica das finanças na advocacia criminal é um passo fundamental para evitar dor de cabeça. Não é sobre enriquecer rápido, mas sobre criar estabilidade em um cenário que, por definição, é instável. Vamos falar de ferramentas, hábitos e estratégias que realmente funcionam na prática. E sem papo furado — porque o boleto não espera.

 

Separar o pessoal do profissional (de verdade!)

Esse é um clichê, mas continua sendo ignorado por muita gente: separar as finanças do escritório das finanças pessoais. Não tem jeito, se quiser manter o controle, isso precisa ser feito com rigor. Nada de misturar cartão, conta bancária, PIX ou até aquele dinheiro em espécie que sobrou do cliente. Um erro comum é pagar despesas da casa com o dinheiro de uma causa em andamento — e depois ficar sem recursos pra cumprir o combinado no processo.

A melhor forma de evitar isso é abrir uma conta PJ, mesmo que o advogado ainda atue como autônomo. Isso facilita não só o controle do fluxo de caixa, mas também a organização para fins contábeis. O ideal é definir um “pró-labore” mensal — uma espécie de salário — e manter esse valor fixo para uso pessoal, independentemente do quanto entrou naquele mês. Pode parecer limitado no início, mas é o caminho mais seguro a longo prazo.

Também é importante criar uma planilha ou usar um app financeiro que categorize as entradas por tipo de caso. Assim, dá pra saber quanto foi recebido por causas criminais, quantas consultas pagas foram feitas, quais clientes estão inadimplentes… e aí sim, começar a tomar decisões estratégicas. Afinal, não adianta pegar 20 casos de baixo valor e não conseguir fechar aquele de maior complexidade, como um processo envolvendo um celular roubado que pode demandar mais horas e atenção.

 

Criar reserva financeira para os meses “magros”

Quem trabalha por conta precisa desenvolver o hábito de guardar parte do que ganha, especialmente nos meses bons. Pode parecer fácil falar — difícil é fazer. Mas o conceito da “reserva de emergência” é ainda mais crucial quando a receita varia tanto. Idealmente, o advogado deveria ter guardado o equivalente a pelo menos 3 a 6 meses de custos fixos do escritório e despesas pessoais.

A questão aqui não é se o mês ruim vai chegar. Ele vai. O que muda é como você vai reagir quando isso acontecer. Ter um colchão financeiro evita decisões desesperadas, como aceitar qualquer causa, baixar honorários sem critério ou até deixar de cumprir compromissos com clientes. E aí vem o círculo vicioso: desorganização financeira, má reputação profissional e, no pior cenário, cliente reclamando que o advogado sumiu.

Essa reserva não precisa estar parada. Pode ser aplicada em investimentos de alta liquidez, como Tesouro Selic ou CDBs com resgate imediato. A ideia é que esse dinheiro esteja acessível, mas rendendo algo enquanto não é necessário. Planejamento financeiro, aqui, é um ato de responsabilidade com você mesmo e com quem confia no seu trabalho.

 

Planejar os recebimentos e estabelecer metas realistas

Na advocacia criminal, especialmente para quem está começando, é comum ter recebimentos irregulares. Um mês com cinco novos clientes, outro sem nenhum. Por isso, é fundamental trabalhar com metas realistas de faturamento mensal e anual. Não dá pra viver contando com uma entrada inesperada. O certo é basear-se na média dos últimos meses e, a partir disso, fazer projeções — com folga.

Uma dica prática: utilize a média de receita dos últimos seis meses para estimar o que você pode gastar nos próximos três. Isso cria uma margem de segurança. Também é válido usar ferramentas de controle financeiro que permitam visualizar esses dados com clareza. Afinal, como tomar decisões se você nem sabe quanto está ganhando ou perdendo?

E se houver pendências de honorários, negocie prazos com clareza — nada de confiar apenas no “vou pagar semana que vem”. Crie mecanismos que favoreçam o pagamento, como parcelamento via link ou cartão. Estar em controle das datas ajuda não só nas finanças, mas também na organização dos processos. Isso sem contar os casos de urgência, como pedidos de medidas protetivas, que muitas vezes exigem atuação imediata, sem margem pra esperar o cliente resolver a parte financeira “depois”.

 

Controlar despesas fixas e variáveis com inteligência

Outro ponto delicado na advocacia com renda variável é o controle dos gastos. Nem tudo que entra é lucro — mas tem gente que esquece disso. Aluguel de sala, luz, internet, transporte, assinatura de sistemas jurídicos, marketing, contador… tudo precisa estar na ponta do lápis. Se possível, reduza os custos fixos ao essencial. O ideal é ter um escritório enxuto, mas funcional, que não drene recursos nos meses de baixa.

Já as despesas variáveis — como publicidade, participação em eventos, cursos — podem ser ajustadas de acordo com o desempenho do mês. Mas atenção: cortar tudo também pode ser um erro. Às vezes, aquele investimento em marketing digital é o que garante a captação de clientes. A chave está no equilíbrio — não gastar demais, nem paralisar.

Se o advogado trabalha com sócios ou equipe, os acordos financeiros precisam ser claros. Quem entra com o quê? Qual o percentual de cada um nos honorários? Como dividir custos e lucros? Ignorar isso pode causar ruídos e até rachas em momentos de tensão. Afinal, quando se está envolvido em casos pesados — como Habeas Corpus de urgência, por exemplo — o último problema que você quer ter é uma briga interna por causa de dinheiro.

 

Organizar pagamentos e recebimentos com previsibilidade

Estabelecer uma rotina financeira é uma das formas mais eficientes de manter a casa em ordem. Recebeu? Registra. Pagou? Atualiza. Simples assim. Mas na prática, muita gente deixa isso para depois — e aí os números começam a fugir do controle. Ter um dia fixo da semana para revisar as finanças do escritório pode parecer exagero, mas ajuda (e muito) a prevenir surpresas.

Ferramentas como aplicativos de controle financeiro, planilhas compartilhadas (para quem tem equipe) ou até softwares jurídicos com módulos financeiros podem facilitar esse processo. O que não pode é deixar tudo na cabeça — até porque, na correria, sempre escapa alguma coisa. E o risco disso se transformar em inadimplência, juros ou até perda de credibilidade é alto.

Outra dica valiosa: ofereça formas de pagamento práticas para seus clientes. PIX, boleto, parcelamento. Quanto mais fácil for pagar, menos desculpa o cliente terá para atrasar. E nos casos em que a urgência bate à porta — como pedidos de Habeas Corpus —, isso pode acelerar todo o processo, inclusive o jurídico. Dinheiro na conta, ação protocolada. Simples assim.

 

Educação financeira como parte da rotina jurídica

Por fim, um ponto que ainda é tratado como tabu, mas que deveria ser incluído em qualquer curso de Direito: educação financeira. Não basta ser bom advogado — é preciso ser bom gestor. E isso inclui saber onde investir, como poupar, o que fazer com os honorários quando eles finalmente entram, e, principalmente, como evitar dívidas que comprometam a saúde do escritório.

Buscar conhecimento nessa área não é sinal de fraqueza. É estratégia. Cursos, podcasts, livros e até consultorias específicas para advogados são opções acessíveis. E quanto mais você entende de finanças, mais liberdade você tem — inclusive para escolher com quais casos quer trabalhar. Afinal, ninguém quer viver refém de causas pequenas por necessidade.

E isso tudo reflete também na postura profissional. Um advogado organizado financeiramente transmite mais confiança. Fala com segurança, negocia melhor e tem tranquilidade para focar no que importa. Não é sobre ostentação. É sobre solidez. E, em uma área tão sensível quanto a criminal, onde tudo pode mudar do dia pra noite, essa estabilidade é ouro.

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