Quando alguém da família precisa enfrentar o processo de recuperação de uma dependência — seja química ou alcoólica — uma das primeiras perguntas que surgem é: quanto isso vai custar? E a resposta, infelizmente, não é tão simples. O custo para manter um dependente em tratamento varia bastante dependendo do tipo de abordagem escolhida, da duração, da estrutura oferecida e até da gravidade do caso.
Muitos familiares entram nesse processo sem nenhuma ideia clara do que vem pela frente — tanto emocionalmente quanto financeiramente. E, na pressa por uma solução, acabam tomando decisões sem planejamento. Isso pode gerar frustrações e até abandonos no meio do caminho. Saber com antecedência o que esperar pode ajudar, e muito, a manter a constância do tratamento.
Outro ponto que costuma pegar as pessoas de surpresa são os gastos extras: medicamentos, transporte, alimentação específica, consultas paralelas, entre outros. Não é só pagar uma clínica e pronto. O tratamento real envolve várias camadas, e muitas delas têm custos associados. É como montar um quebra-cabeça — e cada peça custa algo diferente.
Mas afinal, quanto custa manter um dependente em recuperação? Vamos explorar a seguir os principais fatores que influenciam esses custos, dando uma visão mais realista (e pé no chão) sobre o que esperar nesse caminho. E, claro, também falaremos sobre como fazer escolhas mais assertivas e evitar gastos desnecessários.
Valores médios das clínicas de internação
Começando pelo que, geralmente, representa o maior custo: a internação. Dependendo da cidade, da estrutura oferecida e do tempo de permanência, os valores em clínicas de recuperação podem variar entre R$ 1.000 e R$ 15.000 por mês. Sim, é uma faixa larga. Há opções mais acessíveis com infraestrutura básica, e outras com foco terapêutico mais intensivo, equipe multidisciplinar e atendimento individualizado.
Clínicas com equipe 24h, alimentação balanceada, quartos privativos, psicoterapia frequente e atividades complementares (como meditação, esportes, oficinas) tendem a ter um custo mais elevado. Em contrapartida, oferecem um ambiente mais estruturado e confortável para a recuperação — o que pode influenciar diretamente nos resultados.
É importante entender que mais caro nem sempre significa melhor. O ideal é buscar equilíbrio entre custo e efetividade, avaliando o que realmente será essencial para o caso específico. Às vezes, uma estrutura mais simples, mas com abordagem terapêutica bem definida, pode ser mais eficaz do que uma clínica luxuosa e genérica.
Custos com terapias e acompanhamento psicológico
Além da internação, o acompanhamento psicológico é parte vital do tratamento — e sim, tem um custo que precisa ser considerado. Muitas vezes, mesmo durante o período na clínica de recuperação, há psicólogos e terapeutas externos que prestam suporte específico, como sessões de terapia familiar, terapia individual intensiva ou atendimentos emergenciais.
O valor por sessão pode variar bastante, entre R$ 100 e R$ 300, dependendo da especialidade e da região. Em alguns casos, são necessárias duas ou mais sessões por semana, especialmente no início do tratamento ou em momentos de crise emocional. Isso pode somar um valor considerável ao longo do mês.
Fora do ambiente da clínica, no chamado tratamento ambulatorial ou no pós-internação, o acompanhamento psicológico precisa ser mantido por tempo indeterminado. Afinal, a recuperação não termina quando o paciente “volta pra casa”. E esse acompanhamento contínuo deve ser inserido no planejamento financeiro como um investimento de médio a longo prazo.
Despesas com medicação e cuidados médicos
Outro ponto que gera impacto direto no bolso são os custos médicos e com medicação. Durante o tratamento de dependentes químicos, é comum que sejam prescritos antidepressivos, estabilizadores de humor, ansiolíticos e outros medicamentos voltados à saúde mental. Dependendo da medicação e da dosagem, a média mensal pode variar de R$ 100 a R$ 800.
Além disso, exames laboratoriais e consultas psiquiátricas de rotina são necessários — principalmente nos primeiros meses, quando o corpo ainda está se adaptando à ausência da substância e aos novos medicamentos. Consultas particulares com psiquiatras costumam variar de R$ 250 a R$ 600 cada.
Um detalhe que poucos consideram: o corpo do dependente muitas vezes está debilitado. Problemas no fígado, coração, sistema digestivo, entre outros, exigem avaliações médicas complementares e até tratamentos paralelos. Ou seja, mesmo quando se pensa apenas no aspecto psicológico, o cuidado com a saúde física também entra na conta.
Gastos relacionados ao alcoolismo especificamente
O tratamento voltado ao álcool, embora semelhante em muitos aspectos ao de drogas ilícitas, possui algumas particularidades. O tratamento de alcoolismo inclui, geralmente, uso de medicamentos específicos como dissulfiram e naltrexona, que ajudam a reduzir o desejo pelo álcool e controlar recaídas. Esses medicamentos custam entre R$ 70 e R$ 300 mensais, dependendo da marca e da posologia.
Outro ponto importante: o alcoolismo costuma estar profundamente enraizado em rotinas sociais. Por isso, terapias de grupo e coaching comportamental são frequentemente indicados — e pagos à parte. Sessões em grupos de apoio externos ou com profissionais especializados podem gerar uma despesa de R$ 200 a R$ 500 por mês.
Muitos pacientes também precisam de acompanhamento nutricional para restaurar os danos causados por anos de consumo excessivo. Carência de vitaminas, desnutrição, problemas hepáticos… tudo isso exige um plano alimentar supervisionado, o que adiciona consultas nutricionais e suplementos à equação dos custos.
Custos com internação involuntária
Quando a pessoa não aceita o tratamento de forma voluntária, pode ser necessário recorrer à internação involuntária. Esse processo é legal, porém mais burocrático e, quase sempre, mais caro. Isso porque exige uma estrutura adicional de segurança, equipe médica de plantão e transporte especializado, geralmente em ambulância ou veículo com escolta profissional.
O custo da internação involuntária pode começar em torno de R$ 4.000, mas facilmente ultrapassa os R$ 10.000 — principalmente nos primeiros dias, que exigem monitoramento intensivo. Além disso, há custos com laudos médicos, documentação e, em alguns casos, contratação de advogados especializados no processo.
Outro fator é o risco de reincidência. Quando o paciente não aceita o tratamento internamente, as chances de evasão e recaída aumentam. Isso pode gerar novas internações ou reinícios do processo — o que, no final das contas, eleva o custo total da recuperação de forma expressiva. Ou seja, é importante entrar nesse tipo de decisão com preparo emocional e financeiro.
Logística, transporte e apoio contínuo
Por último, mas não menos importante, estão os custos operacionais do dia a dia. Sim, aqueles gastos “menores” que, no fim do mês, fazem a diferença. Transporte até consultas, visitas familiares à clínica, alimentação especial (em casa ou durante o pós-tratamento), telefonemas, envio de roupas e itens de higiene… tudo isso entra na conta.
Quando o paciente está em casa, em tratamento ambulatorial, há ainda o custo de deslocamento até psicólogos, psiquiatras, grupos de apoio ou até farmácias. Sem falar no tempo que a família dedica a esse suporte — o que pode impactar a rotina de trabalho e gerar perdas indiretas.
Também vale considerar a necessidade de suporte contínuo após a alta. Algumas famílias contratam cuidadores, monitores ou terapeutas para acompanharem os primeiros meses em casa. Esse tipo de serviço pode custar de R$ 1.000 a R$ 3.000 mensais, dependendo da frequência e da qualificação do profissional.