Quanto custa tratar dependência química no Brasil?

Por Amigo Rico

21 de maio de 2025

Falar sobre dependência química no Brasil é sempre um mergulho em várias camadas de realidade. De um lado, temos um problema de saúde pública que afeta milhões de brasileiros direta ou indiretamente. De outro, um mercado crescente de instituições que oferecem tratamento, com preços que vão de quase nada até cifras que fazem qualquer um engasgar. E no meio disso tudo? Famílias desesperadas tentando entender quanto custa — de verdade — buscar ajuda para quem está afundado no vício.

Esse custo, aliás, vai muito além do financeiro. Tem o preço emocional, psicológico, relacional. Tem a sobrecarga nos serviços públicos, a falência silenciosa de lares que se veem esmagados pela repetição de recaídas, e também o custo social — aquele que ninguém vê, mas que afeta desde a segurança até a economia. Ainda assim, a pergunta que não quer calar é: quanto se gasta, em média, para tratar alguém com dependência química no Brasil?

A resposta não é simples. Depende da região, da gravidade do caso, da estrutura da clínica, do tempo necessário de internação… e até da abordagem terapêutica escolhida. Tem gente que consegue tratamento gratuito pelo SUS, enquanto outros chegam a gastar milhares de reais por mês em clínicas privadas. É um mercado, sim. Mas também é um campo onde o sofrimento humano dita a urgência — e isso muda tudo.

Nesse artigo, vamos tentar destrinchar os custos envolvidos nesse processo, sem floreios. Vamos falar de números, mas também de escolhas, de alternativas, de pegadinhas e promessas vazias. Porque, quando se trata da vida de alguém, cada centavo precisa valer a pena.

 

As opções de clínicas e a variação de preços

Talvez o primeiro choque para quem busca ajuda seja perceber a imensa disparidade de preços entre as clínicas de recuperação. Há instituições que cobram algo em torno de R$ 1.000 a R$ 2.000 por mês. E outras que pedem R$ 10.000, R$ 15.000 — ou até mais. Isso mesmo, estamos falando de valores mensais. A diferença, claro, está no que é oferecido: estrutura física, equipe multidisciplinar, tipo de terapia, privacidade, alimentação, atividades extras… tudo isso entra na conta.

O problema é que, na pressa e no desespero, muitas famílias não sabem avaliar o que realmente importa. Acabam se guiando por aparência, promessas ou indicações apressadas. E, infelizmente, nem sempre o preço mais alto é sinônimo de melhor cuidado. Às vezes é só marketing. Por outro lado, clínicas mais baratas podem não ter estrutura mínima para lidar com casos graves — o que, no fim das contas, pode sair ainda mais caro.

Existe ainda uma fatia pequena, mas importante, de instituições que funcionam com apoio religioso, comunitário ou filantrópico. Elas costumam cobrar valores simbólicos ou nada cobrar. Mas, como já era de se esperar, a demanda por essas vagas é altíssima, e a fila de espera costuma ser longa. Então, se a urgência bate à porta, as opções gratuitas nem sempre dão conta.

 

O que realmente está incluso no valor cobrado

Nem todo mundo presta atenção nisso, mas saber o que está — ou não — incluso no pacote de uma clínica de recuperação pode evitar muita dor de cabeça. Algumas clínicas oferecem tudo: estadia, alimentação, atendimento médico, psicológico, terapia ocupacional, atividades físicas, acompanhamento espiritual, medicação e até apoio jurídico. Outras, no entanto, cobram à parte por cada uma dessas coisas.

É comum, por exemplo, que o valor anunciado não inclua medicamentos controlados. Isso, em casos mais severos, pode pesar no orçamento da família. Também é frequente que o transporte do paciente — especialmente em internações involuntárias — não esteja incluso. E esses deslocamentos podem custar caro, dependendo da distância e da urgência.

Outro detalhe importante é o acompanhamento pós-alta. Algumas clínicas oferecem suporte ambulatorial gratuito ou com valor reduzido após a internação. Outras encerram o vínculo assim que o paciente sai. E aí, a recaída vira um risco imediato. O problema? Isso nem sempre é claro na hora da contratação. E, num momento de vulnerabilidade, é fácil assinar sem ler as letras miúdas.

 

Diferenças entre tipos de tratamento

Quando falamos em tratamento de dependentes químicos, estamos falando de um universo vasto. Não existe um único caminho. Alguns pacientes precisam de internação integral, outros podem fazer um tratamento ambulatorial, com consultas semanais e acompanhamento contínuo. Cada abordagem tem seu custo — financeiro e emocional.

O tratamento ambulatorial, por exemplo, tende a ser mais barato. Principalmente se for feito pelo SUS ou em instituições comunitárias. Mas ele exige disciplina, presença da família e motivação do paciente. Já a internação, especialmente as de longo prazo, costuma ser mais eficaz em casos de dependência grave. Porém, o valor se multiplica — afinal, envolve moradia, alimentação, equipe 24h, estrutura hospitalar.

Além disso, existe a escolha entre abordagens mais clínicas e outras mais espiritualizadas. Terapias com base na psicologia comportamental, métodos de doze passos, programas religiosos, técnicas alternativas como meditação e acupuntura… cada uma dessas linhas influencia não só no tipo de atendimento, mas também no valor cobrado. A variedade é tanta que, sem um mínimo de orientação, o risco de cair em ciladas é real.

 

Tratamento do alcoolismo: especificidades e custos

Quando o problema é o álcool, o tratamento ganha contornos diferentes. Por ser uma substância legal, com uso socialmente aceito, o alcoolismo muitas vezes demora mais a ser identificado como doença. E quando finalmente é, o quadro já está agravado. O custo de um tratamento de alcoolismo pode ser tão alto quanto o de qualquer outra dependência — às vezes, até maior, por conta das complicações físicas associadas.

Pessoas que fazem uso abusivo de álcool por muitos anos costumam apresentar problemas hepáticos, cardíacos, neurológicos. Isso exige uma abordagem médica mais ampla, o que encarece o tratamento. Internações prolongadas, exames constantes, medicamentos caros… tudo entra na conta. E nem todas as clínicas estão preparadas para isso.

Outro fator que pesa é a alta taxa de recaída. O tratamento do alcoolismo, mais do que qualquer outro, depende de um plano de manutenção a longo prazo. Grupos de apoio, psicoterapia, consultas regulares — o investimento não termina com a internação. É um custo contínuo, que exige planejamento e suporte familiar constante. Por isso, quem está pensando só no valor da internação precisa olhar o cenário inteiro antes de decidir.

 

Internações involuntárias e custos adicionais

Quando a pessoa se recusa a buscar ajuda, mesmo colocando sua própria vida em risco, a única saída pode ser a internação involuntária. E aí o custo do tratamento sobe mais um degrau. Isso porque, além dos gastos normais com a internação, entram em cena serviços adicionais: laudos médicos específicos, transporte especializado, acompanhamento jurídico — e, em alguns casos, medidas judiciais.

O transporte, aliás, é um ponto sensível. Em muitos casos, o paciente precisa ser levado à força, com segurança e cuidado. Algumas empresas oferecem esse serviço, mas ele pode custar de R$ 500 a R$ 3.000, dependendo da distância e da complexidade da abordagem. Isso sem contar o desgaste emocional envolvido, que é altíssimo.

Além disso, clínicas que aceitam esse tipo de internação costumam ter protocolos rígidos e exigem equipe especializada — o que também encarece o processo. Mas o grande ponto de atenção é: nem toda clínica está autorizada a receber pacientes involuntários. E algumas fazem isso à margem da legalidade. O barato, nesse caso, pode sair muito caro — inclusive juridicamente.

 

Opções gratuitas e o desafio do acesso

Sim, o Brasil tem opções gratuitas para tratamento de dependência química. Elas existem dentro do SUS, em CAPS AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), em comunidades terapêuticas conveniadas e em algumas ONGs. Mas será que é fácil conseguir vaga? Nem sempre. A demanda é gigantesca, e os recursos são limitados. Muitas vezes, o paciente precisa esperar semanas ou até meses por uma avaliação.

Outro desafio é a continuidade do tratamento. Mesmo quando a internação é realizada, o acompanhamento pós-alta nem sempre acontece como deveria. Falta equipe, estrutura, verba. Isso gera um ciclo de recaídas que poderia ser evitado com um suporte mais sólido. Por isso, embora as opções gratuitas sejam fundamentais, elas enfrentam obstáculos grandes demais para atender à demanda com eficácia.

Mas há iniciativas interessantes acontecendo. Parcerias entre prefeituras e entidades religiosas, mutirões de saúde, programas municipais de combate ao álcool e drogas… são alternativas que, mesmo com limitações, têm feito a diferença em muitas regiões. O problema é que nem sempre essas ações são divulgadas ou acessíveis para todos. A informação, nesse caso, vale ouro.

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